Activistas e analistas políticos estranham “silêncio criminoso” após repressão a marchas de homenagem ao Azagaia

Activistas e analistas políticos estranham “silêncio criminoso” após repressão a marchas de homenagem ao Azagaia

Activistas e analistas políticos moçambicanos dizem a Polícia tinha “alvos concretos a abater” durante a repreensão brutal às marchas pacíficas de homenagem ao rapper Azagaia, no sábado, 18, e estranham o “silêncio criminoso” da justiça 48 horas depois.

A Polícia feriu civis na manifestação pacífica e tornada violenta pela sua “brutal e criminosa actuação”, o que sujeitou Moçambique a “regredir de forma gratuita” nos índices de democracia e a tornar-se num país com “ambiente de medo e terror”, disse à VOA Fátima Mimbire, uma activista social.

“Pela forma como actuou a polícia, eles queriam matar pessoas específicas. Há agentes (da polícia especial) que dispararam para alvos concretos”, continua Mimbire para quem “perdeu o olho e foi atingido por bala “não foi obra do acaso.

A activista, que teve a viatura vandalizada durante a manifestação, pergunta sobre “o porquê dessa acção brutal da polícia, qual o perigo das pessoas desprotegidas, de onde veio essa ordem e porque veio essa ordem, para que fim essa ordem veio”

Fátima Mimbire insiste que a Procuradoria Geral da República (PGR) de Moçambique, continua num silêncio “criminoso” e “cúmplice”, dois dias depois da violência contra civis.

Já Erik Charas, jornalista, deixa cair a tese de “movimento de conspiração” defendida nos círculos políticos do partido no poder, para justificar a agressão ao povo.

“Há teorias de conspiração que estão a ser montadas e inventadas para justificar a brutalidade com que um grupo de jovens foi recebido”, defende Charas, para “os agressores continuarem a ter uma boa imagem e apoios da comunidade internacional”.

O jornalista, que escapou de nove tentativas de detenção quando cobria a manifestação, entende que o “movimento de 18 de Março” serviu para remover o “disfarce da democracia” e demonstrou uma “governação de ditadura e tirania” em Moçambique.

O analista político moçambicano Samuel Simango também descarta a teoria de conspiração durante o movimento, que, segundo diz, surge de “uma frustração colectiva” e “insustentabilidade social” que se vive em Moçambique, tendo as mensagens do Azagaia sido “o combustível desta consciência” colectiva nacional.

“A actuação brutal da polícia demonstra, entre outras coisas, que o regime não tem conseguido fazer a leitura dos sinais dos tempos”, vinca o também professor universitário.

Simango realça que ao cantar “Povo no Poder”, a mais notável música do rapper Azagaia, a “sociedade moçambicana demonstrou que está saturada, por falta da solução dos problemas” do país.

Os contrastes sociais em Moçambique, referiu, já deviam ter levado o Provedor da Justiça e a PGR a agir para “repor a verdade social, repor a justiça e sarar as feridas abertas pelo comportamento do governo por meio das forças policiais”, sob o risco das próximas manifestações serem violentas e resultar numa ingovernabilidade.

A Polícia usou gás lacrimogéneo, balas de borracha e cães para dispersar as manifestações, que tiveram autorização oficial, mas foram reprimidas em várias cidades moçambicanas.

Celso Correia, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural e membro do Comité Central da Frelimo, partido no poder, disse em Nampula ser preciso “deixar as instituições trabalharem e averiguar” o grau da violência ocorrida, reiterando que o partido “é contra todo o tipo de violência”.

Vários agentes da polícia estão a criticar nas redes sociais a actuação da própria corporação contra civis, sugerindo uma insatisfação com o comando político da Policia.

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