O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) classificou hoje o acordo de extradição assinado entre Moçambique e Ruanda como o preço que Maputo está a pagar pela ajuda no combate aos grupos armados em Cabo Delgado.
“Aos poucos, o regime de Paul Kagame [Presidente do Ruanda] começa a colher os seus dividendos resultantes do envio de mais de dois mil militares e polícias para ajudar Moçambique na luta contra o extremismo violento em Cabo Delgado”, refere um texto de opinião do CDD, intitulado “Maputo e Kigali oficializam extradição de opositores e críticos do regime de Paul Kagame refugiados em Moçambique”.
No artigo, divulgado hoje, a organização argumenta que o Ruanda tem “carta branca” para requisitar às autoridades moçambicanas os opositores e críticos do Governo ruandês refugiados em Moçambique.
“A assinatura do acordo de extradição entre Moçambique e Ruanda veio aumentar o sentimento de insegurança dos ruandeses que vivem no território nacional”, lê-se no texto.
O CDD considera o entendimento como o segundo golpe para a comunidade ruandesa em Moçambique, depois da nomeação de Claude Nikobisanzwe como alto comissário do Ruanda em Moçambique.
Claude Nikobisanzwe é o diplomata que em 2014 foi expulso da África do Sul por suspeitas de envolvimento no assassinato de Patrick Karegeya, antigo chefe dos serviços secretos do Ruanda encontrado morto num hotel de Joanesburgo, recorda aquela ONG.
O CDD lembra que no último ano foi morto a tiro nos arredores de Maputo o vice-presidente da Associação dos Refugiados Ruandeses, Revocant Karemangingo, em “circunstâncias até agora não esclarecidas”.
Ainda em 2021, desapareceu Ntamuhanga Cassien, jornalista ruandês de 37 anos que se encontrava exilado na ilha de Inhaca, junto à capital moçambicana.
Desde a chegada das tropas do Ruanda em julho de 2021 para a luta contra os grupos armados em Cabo Delgado (norte), “sempre esteve claro que havia acordos secretos através dos quais Maputo iria compensar Kigali pela intervenção militar ruandesa nas matas de Cabo Delgado”, enfatiza o CDD.
Antes da assinatura do acordo de extradição, esteve em Maputo uma missão empresarial do Ruanda e têm-se multiplicado entendimentos e visitas de dirigentes dos dois países.
“Os empresários ruandeses manifestaram interesse em explorar oportunidades de negócios nas áreas de agricultura, agro-processamento, tecnologias de informação e comunicação, turismo, energias renováveis, petróleo e gás, infraestruturas, logística e transportes”, refere o artigo.
Em Janeiro, uma delegação governamental moçambicana participou, pela primeira vez, na Feira Internacional do Ruanda.
No início deste mês, a presidente da Câmara dos Deputados do Ruanda, Donatile Mukabalisa, esteve em Maputo, onde assinou, com a presidente da Assembleia da República, Esperança Bias, um protocolo de cooperação que irá viabilizar a troca de experiências e conhecimentos sobre as atividades parlamentares, através da organização de missões técnicas e do desenvolvimento de outras formas de cooperação.
O acordo de extradição e de assistência mútua legal foi rubricado pelo ministro de Estado para os Assuntos Constitucionais e Legais do Ruanda, Nyirahabamina Soline, e a ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos de Moçambique, Helena Kida, no âmbito da visita que a governante moçambicana realizou a Kigali na última semana.
A assinatura do entendimento foi anunciada num portal do Governo ruandês, enquanto do lado moçambicano não foi feita nenhuma divulgação do acto.
Deixe uma resposta