A população de Palma, distrito dos projetos de gás no norte de Moçambique, continua em situação extremamente precária, alertou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), apesar da melhoria das condições de segurança.
A declaração do ACNUR assinalou o dia em que, em 2021, grupos armados invadiram a vila sede de distrito, num ataque “que resultou em dezenas de mortes” e levou dezenas de milhar a fugir, agravando a crise humanitária em Cabo Delgado.
O ataque levou também à suspensão das obras do complexo industrial de liquefação de gás, o maior projeto privado de África, da ordem dos 20 mil milhões de euros.
“Desde a altura, mais de 70.000 pessoas já voltaram para suas casas e 10.000 deslocados internos encontraram abrigo em cidades de outras áreas”, detalha a agência das Nações Unidas.
De acordo com dados do ACNUR, recolhidos em entrevistas a 7.425 famílias de Palma, “as necessidades mais urgentes são o acesso à documentação civil e a meios de subsistência”.
Ao mesmo tempo, 70% dos entrevistados relataram não ter acesso a abrigo, 64% disseram não ter alimentação e 43% queixou-se de não ter serviços de água e saneamento.
O ACNUR diz estar a trabalhar “em estreita colaboração com uma série de atores, incluindo o Governo, para fornecer serviços urgentes de proteção e assistência às pessoas deslocadas e às comunidades que as acolhem”.
Até este mês, as operações do ACNUR em Moçambique “tinham sido financiadas em apenas 18% de um total de 47,4 milhões de dólares necessários para fornecer proteção e assistência aos necessitados”, concluiu.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde Julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED. (Notícias ao Minto)
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